O nome da minha angústia
Sobre o que pesa no peito quando a vida parece não andar no mesmo ritmo da vontade
Existe uma angústia aqui dentro. Ela ocupa espaço, ocupa tempo, tem peso, tem gosto e tem cheiro.
Minha angústia sempre se faz presente na região do peito, tórax. É uma mescla de aperto com embrulho. Causa ânsia, mas não parece querer sair. É constante, é perene, é estranha.
E eu sei, muito bem, o motivo dessa angústia. Ele tem nome, artigo bem definido. Adjetivos, vários. Ruins, difíceis, complicados, doloridos.
Ficou curioso? Eu ficaria! E foi a minha curiosidade a responsável por eu ter chegado até aqui assim, angustiada.
Os caminhos que percorri foram todos guiados por essa maldita curiosidade. Não gosto da palavra “maldita”, mas nesse caso, não encontro substituta melhor.
Por que tanta vontade de conhecer as possibilidades da vida?
Por que nasci com essa vontade louca de abraçar o mundo?
De sair por aí em busca de conhecer...
“Conhecimento alimenta a minha alma”.
Essa frase costumo usar como slogan, meu slogan pessoal.
Mas por quê?
Não bastava ter saído do ensino médio com a escolha pronta sobre a profissão?
Ter feito a graduação tradicional seguida do estágio, da efetivação com carteira assinada, 10 anos de empresa, promoção, 13º salário, férias remuneradas?
Não bastava?
Aos 45 anos – idade que tenho hoje – com esse caminho linear, eu estaria agora no escritório? No avião indo para um evento importante da empresa? Eu teria sido jornalista? Teria me tornado uma CMO?
Onde será que eu estaria? Talvez morta? Talvez!
Onde estou agora?
Aqui, e por um lado feliz... Sou casada com o homem que amo. Com ele, tive uma filha que é saudável, inteligente, bonita. Tenho pai e mãe vivos, saudáveis, lúcidos. Nunca tive doença grave, acidente, depressão.
Tenho o luxo de poder estar perto, bem perto, das pessoas que habitam a minha existência e sim, tenho plena consciência de que isso é um luxo, mas e essa angústia que teima em ficar?
O nome dela é instabilidade financeira.
Não vou entrar na seara de me justificar perante os milhões de brasileiros que vivem essa mesma angústia, mas não têm casa para morar, comida no prato, dignidade no sistema de saúde.
Eu ainda sou uma privilegiada, mas a angústia existe e é sobre ela que venho falar.
Depois da minha transição de carreira – e aqui não me refiro a sair do corporativo e entrar no empreendedorismo, mas sobre sair da Gastronomia e entrar na Escrita – sinto que as coisas ainda não se encaixaram com plenitude.
O tanto que estudei para fazer uma transição responsável, coerente, honesta e íntegra...
Os tantos trabalhos que topei fazer, muitos gratuitamente, em prol do aprendizado que trariam...
Os tantos currículos que enviei... para vagas, inclusive, bem inferiores às minhas capacidades intelectuais... com zero resposta ou no máximo um “infelizmente, sua candidatura não progrediu, mas não desanime, vamos manter seu currículo em nossa base de dados”.
Sem deixar de mencionar as tantas postagens que tenho feito nas redes sociais – LinkedIn e Instagram – visando educar e atrair o meu perfil ideal de cliente. Eu gosto de fazer, afinal, fazendo para mim, eu estou me aperfeiçoando a fazer melhor para o outro, mas, o resultado é lento, bem vagaroso... e como dizem por aí... os boletos não param de chegar...
Não estou dizendo que o mundo corporativo seria o cenário ideal para alguém como eu.
Transição de carreira depois dos 40 anos, mais conhecimento acadêmico do que prático, sem graduação na área de atuação, mãe, esposa e dona de casa.
No fundo, eu gosto de empreender...
Gosto da liberdade da gestão do tempo e da maturidade que essa habilidade traz.
Gosto da organização do espaço e da importância que ela tem para que o trabalho flua.
Gosto da rotina toda... do acordar e poder me exercitar; de voltar e, depois do banho, saber que terei a tarde toda útil para trabalhar no que é realmente necessário.
O que falta? Preencher essas tardes com trabalho para o outro – o cliente.
Ou seja, falta cliente, falta entrada, caixa, money.
Pois a minha entrega... Essa eu garanto...
Eu sou daquelas profissionais que faz para o outro como se fosse para mim, sabe?
Gosto de mergulhar bem fundo no universo do cliente, seja ele pessoa ou empresa, e de lá trazer o melhor...
Gosto de ir além e explorar todas as possibilidades...
Gosto muito, muito do que faço e esse carinho reverbera no trabalho.
Não tem mágica, não tem milagre, não tem moleza.
Tem estratégia, tem alma, tem conhecimento.
Tem tecnologia, tem ferramenta, tem cérebro.
Mas essa tal de instabilidade... Ai como incomoda. Como desespera. Como angustia.
Dias melhores virão? Acredito que sim... costumo ter pensamento positivo.
Hoje está sendo um dia ruim... Escrever esse texto foi uma forma de desabafar...
Escrever, para mim, é sempre caminho...
Que o universo me dê força e fé para alcançar a tão sonhada estabilidade financeira.
Ah Biafra! Tão bom ler teu comentário... me sinto menos só... apesar de não desejar que alguém sinta-se angustiado pelos mesmos motivos... quando quiser trocar figurinhas, podemos marcar uma call...
Que texto necessário, e como ele fala com partes que estou passando. Ontem 25/6, foi o típico dia de angústia que você contou no texto, eu traduzi como desânimo, mas a onda da instabilidade, preocupação do que vem a frente é semelhante. Me vi em várias partes. 🫶🏽